sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O "Start" em nosso assunto.

A arte há muito tempo, deixou de ter como seus únicos sentidos a simples e pura "expressão da vida" e modo como determidado artista vê o mundo e sua vida. Como relata John Berger em seu livro "Modos de Ver", ela pode ser util para diversos fins objetivos. O aumento destas possibilidades, enfim, de formas de como usar a arte vieram com o tempo, a medida em que fomos vendo as suas virtudes e aquilo que poderia acrescentar a nós a sua utilização. Antes mesmo da revolução industrial, após o renascimento, a arte já era utilizada como forma de disceminação de uma idéia e, de certa forma, como "vitrine" para um produto. Nessa época, a imagem do homem passou a ser valorizada no lugar onde outrora estava a igreja e até mesmo Deus: o ser humano passou a ser visto como centro de tudo. Foi ai onde a arte de forma mais clara, passou a ser usada pela primeira vez como uma ferramenta preciosa de convencimento e disseminação da ideia. Ter um quadro seu, um retrato com sua imagem era um objeto que poucos podiam ter. Por isso os quadros eram pintados de maneira onde a imagem daquele que ali estava, geralmente uma pessoa muito rica, poderosa e influente, parecia mais a pintura de um semi-deus. Ter um retrato de si ou de sua familia era sinal de status, de poder, tal como uma ferrari nos dias atuais. Nesse momento já vemos claramente a forma como a arte agrega valores e influencia a forma como vemos algo. Se eu, tivesse um retrato pintado por um grande artista, era visto como alguem melhor que você. E isso não parou por ai, com o passar do tempo a arte foi tomando dimensões reais de vitrine, como naquele Brasil lindo e maravilhoso pintado nas obras pelos artistas da missão artistica holandesa, onde os indios e escravos eram inegavelmente saudáveis e bem tratados. Hoje vemos que a verdadeira intenção era a vender a ideia de um Brasil "pra inglês ver", que na verdade não existia e talves, não exista até hoje.
Essas multiplas possibilidades de utilização da arte veio conosco despontar de formas diversas na contemporaniedade, e os meios de comunicação já se tornam algo rotineiro, de um modo ou de outro para o mundo da arte. Nos dias atuais, onde existem negócios e marcas dentro de um mercado que de forma cada vez mais acelerada tem buscado todas as armas possiveis para se destacar, a arte com o glamuor e status que lhe é natural, encontra, quando representada por artistas que permitem esta transição, seu espaço de forma facil, passando a ser cobiçada pelo mercado de comunicação visual como uma fonte preciosissima de um brilho raro que, dificilmente a concorrencia de quem a estiver utilizando encontrará em algum lugar. Como define Lucia Santaella em seu livro "Porque a Arte e as Comunicações estão convergindo", a propaganda busca agregar valor a produtos e marcas através do status da arte. Analisando um trabalho isolado de Britto, as caixas de Omo com obras do artista, vemos que a propaganda envolvida acerta em cheio aquilo que buscava através dessa abordagem com a embalagem. Em seu livro "Design de Embalagem", Mestringer afirma que um dos papéis da embalagem é agregar valor ao produto, mostrando para o consumidor que o seu preço é justo, ou até mais barato do que deveria ser. Bingo. Com uma obra de arte vendendo um produto, fica fácil acrescentar valor e "passar" confiança e qualidade em relação a este. O mercado publicitário além da busca pela arte como referencia para suas peças (como exemplifica John Berger, dá pra brincar de rouba monte com peças e obras de arte), e da utilização direta que faz dessas obras, ainda traz esse "art status" para a rotina do mundo criativo publicitário, onde em grandes concursos, como Cannes, as peças publicitárias campeãs são tratadas como verdadeiras obras de arte, palavras de Santaella em seu livro, citado anteriormente.
Romero Britto, artista plástico brasileiro que vive em Miami – EUA, mesmo sempre sendo apedrejado pela critica brasileira, é ovacionado mundo afora e tem seu trabalho muito bem representado quando falamos de comunicação visual comercial. Realizou nos ultimos anos vários trabalhos para empresas como Pepsi, Omo e Smirnoff, onde teve seu trabalho exposto em campanhas e embalagens. Além de compensações financeiras que contemplam valores astronômicos, gerou uma visibilidade para sí que o tornou um artista extremamente valorizado e solicitado no exterior. Há pouco tempo saiu no portal O BONDE a notícia que seu faturamento no ano de 2010 alcançou a casa dos 30 milhões de dólares, não quero arriscar uma porcentagem, porém imagino com alguma certeza que uma fatia considerável desse valor venha do seu trabalho exposto através da publicidade. E isso não se limita a um primeiro momento, realizar o trabalho e receber o "pagamento" por ele. Como disse anteriormente, o artista ganha algo imensurável: visibilidade.
Neste contexto podemos então observar que todos os envolvidos ganham: O artista, que além de uma compensação financeira, tem seu trabalho conhecido e propagado através dessa comunicação em determinado meio midiático. A mídia e aquele que a promove: valoriza sua marca/produto/campanha estéticamente e conceitualmente. O público que recebe essa informação visual: ganha em conhecimento, bagagem visual e conhecimento, pois abre os olhos para um mundo por muitos desconhecido: A arte.